O QUE PRECISO PARA JOGAR D&D?


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Estávamos encurralados. Havia goblins por toda a parte e Jonathan, o cavaleiro, já havia sofrido muito dano. Minha fé ainda me permitiria curar um aliado mais uma vez, mas Magda estava ao meu lado, muito ferida, e Bianca tentava nos proteger do ataque pelo flanco esquerdo. Não sabíamos se poderíamos aguentar.
Foi quando surgiu um enorme humanoide verde, com uma aparência reptiliana, olhos de cobra e uma boca com tantos dentes que parecia a de um crocodilo. Ele carregava consigo um chicote e um escudo. Era um mal pressentimento. Não havia mais o que fazer e nossas chances eram mínimas. Precisaríamos de muita sorte.  Decidi confiar mais uma vez nela. Tymora não me abandonaria. Ela nunca o fez e pedi que ela abençoasse nosso grupo enquanto terminava aquela prece mágica. Magda então conjurou um feitiço que adormeceu vários goblins. Jonathan percebeu que tentávamos nosso último fôlego e correu em direção ao ser reptiliano. Bianca contornou o goblin que nos atacava e ainda restava de pé para se aproveitar taticamente do avanço de Jonathan. Tymora sempre recompensa aqueles com espírito de aventura. E essa seria apenas mais uma de nossa trupe. Bastava-nos sobreviver.







EM ALGUM LUGAR DO PASSADO


Eu não me lembro de forma tão precisa de como eu comecei a jogar D&D. Eu ia a casa de um colega e jogávamos Master, Truco, War e um Wargame de robôs gigantes do qual não lembro nome. Ah... e Spellfire. Falávamos sobre política, sociologia, filosofia, cinema, literatura... e jogávamos jogos. Uma constante, no entanto, era ele me explicar sobre esses "jogos de RPG" e o quanto era legal quando ele tinha um grupo fixo, mas que por essas coisas da vida, o grupo acabou se desmontando. Claro, sempre havia um convite para jogar no meio da conversa. Além disso, ele me mostrava uns livros e revistas para eu "ver como era". Não havia internet como hoje. Eram os anos 90.

Um dia, após minha relutância ser vencida pela curiosidade, aceitei. Rolei os dados: 3d6 em sequência por 6 vezes. Os atributos não ficaram lá TÃO bons, mas eram bem acima da média. Nada otimizados, certamente. Resolvi fazer um guerreiro. Tinha Força 16 e Constituição 15 (se não me falha a memória), então me pareceu a melhor escolha na hora.  Lembro que tinha um Carisma alto, mas abaixo de 17, então Paladino seria inviável (no AD&D, as classes tinham pré-requisitos e para jogar de Paladino você tinha que ter um 17 ou 18 rolado no dado. Jogando 3d6 em ordem isso provavelmente nunca aconteceria).



Minha primeira sessão foi com uma ficha de papel e um conjunto de dados. Esse era todo material que tínhamos além de alguns livros que o Mestre, meu amigo, tinha. Eu não havia lido nada e enchi ele de perguntas ao fazermos a ficha. Foi tipo uma "sessão zero". Não jogamos neste dia e sim no dia seguinte. Somente nós dois. Meu personagem então descobriu que a filha do maior comerciante do povoado fora raptada. Ele montou em seu cavalo e partiu pela estrada buscando informações nas fazendas e povoados que se seguiam. Encontros aleatórios na estrada deixavam a coisa mais emocionante. Eu rolava aqueles dados estranhos e tentava resolver tudo sem nenhum combate. Em algum momento eu descobri o paradeiro dos dois, mas eu já desconfiava - pelas diversas conversas com personagens do Mestre - que tinha algo de errado na história que me contaram, afinal, ela não estava amarrada nem parecia infeliz. Era certo: a moça tinha fugido de casa porque o pai não aceitava o relacionamento. Ao encontrar os dois, conversei com eles e descobri que a história era a que eu havia imaginado. Após ponderar um pouco, preferi abrir mão da recompensa e deixar o casal fugir. Ajudei a camuflar a fuga deles, também, criando distrações e fingindo que eles fugiram pra outra cidade. E dei algumas peças de ouro do meu próprio bolso como presente de casamento. Por fim, decidi não voltar pro povoado inicial da aventura e procurar algo por ali. 

Foi o fim da minha primeira aventura de D&D. Na segunda sessão entraria um jogador tóxico que mataria meu personagem por causa de uma "bag of holding", mas isso é uma história para outro momento...

Após alguns meses, eu acabei me tornando Mestre. O meu amigo estava muito ocupado para criar novas histórias e eu pensei "por que não?". Tirei cópias de algumas páginas dos livros dele, algumas anotações que ele mesmo tinha num caderno e comecei a preparar minhas próprias aventuras. O grupo era basicamente o mesmo: meu amigo, o jogador tóxico citado anteriormente e um terceiro jogador, amigo em comum do pessoal. E tudo que eu usava para criar os jogos eram minhas anotações, os dados que peguei emprestado (e em algum momento comprei um kit básico de dados pra mim) e as cópias de algumas folhas de regras. Nos dias de jogos eu usava os livros do meu amigo. Era o suficiente naquele tempo, ao menos até eu poder comprar pra mim alguns livros, umas miniaturas de chumbo que vendia em lojas especializadas (e que se perderam em alguma das mudanças que fiz na vida)... Antes de tê-las, usava tampinhas de garrafa. Ou peças de xadrez. O que estivesse a mão.




E ENTÃO?


Por que eu estou falando disso? Bom... Primeiro porque eu queria deixar bem claro que para jogar RPG você não precisa comprar NADA. Ou quase nada. Para miniaturas, vá até um bar e pegue tampinhas de garrafa. Personalize as tampinhas pintando com esmaltes adquiridos em lojas de importação ou cole algo que você imprimiu. Pegue o conjunto de Regras Básicas da Rede RPG AQUI e AQUI ou use o SRD dos Aventureiros dos Reinos AQUI. Pegue algumas aventuras prontas em Meus Pergaminhos AQUI. Imprima algumas fichas e, se não conseguir comprar dados, coloque papeizinhos com os valores dentro de umas sacolinhas e pronto. Para usar "mapas de combate" apenas quadricule algumas folhas de papel numa medida em que caibam as tampinhas. Se quiser algo mais elaborado, compre uma cartolina (colorida ou não), trace as retas de forma a deixá-la quadriculada e passe "papel contact" sobre ela. Depois use um pincel para quadro branco para fazer os mapas e passe uma flanela para limpar após o uso. 

É muito legal ter os livros todos; um balde cheio de dados; caixas e mais caixas de miniaturas para todo tipo de cena, objeto, criatura e personagem; mapas de combate pré-fabricados... Ou mesmo um monitor ou tevê que fica deitada e reproduz os mapas de um computador externo, através de programas pagos. Isso tudo sem falar de toda a gama de aplicativos e programas pagos que gerenciam toda a mesa e permitem jogar online. Mas nada disso é NECESSÁRIO! Se for jogar online com alguns amigos, é possível usar programas mais simples e gratuitos, sem tantas opções, mas funcionais. Em jogos presenciais, basta as pessoas estarem presentes e com algumas das sugestões aqui já é possível ter um ótimo jogo e uma tarde de domingo inesquecível.






No final, o que importa mesmo é que a mesa tenha objetivos em comum e que todos se divirtam, concordando a respeito das regras, da forma que serão aplicadas e do tipo de história que será contada por todos. E você pode ler mais sobre isso na coluna Atrás da Divisória do Mestre que traduzimos AQUI ou no artigo sobre Sessão Zero AQUI. O resto é opcional. 

Dados especiais, miniaturas, anotações envelhecidas em borras de café, livros de suplementos... Tudo isso ajuda muito, mas não é o principal. E é bom lembrar que se essas coisas estão atrasando o jogo ou se tornando mais importantes que a história que está sendo contada e que a reunião do grupo para jogar um jogo, guarde todos os apetrechos em uma gaveta e use tampinhas de garrafa, papel e caneta.





Espero que tenham gostado!

Bons jogos!