LORDES DAS TREVAS - O VERDADEIRO CONDE STRAHD VON ZAROVICH

 


Wallpaper da WotC para divulgação da Maldição de Strahd



CONDE STRAHD VON ZAROVICH, SENHOR DE BAROVIA

Por Meus Pergaminhos

  

Strahd Von Zarovich é um personagem icônico que atravessou gerações de jogadores e mestres de D&D desde sua primeira aparição no módulo Ravenloft, em 1983, publicado pela TSR. De lá pra cá ele esteve em romances, aventuras e cenários de campanha. Sua última aparição foi na aventura A Maldição de Strahd, publicada pela Wizards of the Coast em 2016.

 

Uma coisa que deixou alguns Mestres de D&D 5E “frustrados” com o lorde vampiro da atual edição do jogo foi ele não ser “tão poderoso” ou não ser “exatamente” como era em outras edições. Bom... Strahd sempre foi sendo repaginado a cada edição, ainda que na 5E a ideia de cânone tenha sido mandada as favas no melhor estilo “esqueçam tudo que escrevi antes”. O Strahd da 5E não é um lorde indefeso, nem de longe, mas por vezes as melhores estratégias para usá-lo são um pouco frustrantes para muitos grupos.

 

Diversas versões foram feitas pelos mais diversos autores não oficiais. Nós aqui faremos também a nossa versão. Esta versão tentará trazer de volta o personagem como existia em algumas outras edições e também usará ideias de diversos lugares. Mas achamos fazer uma nova ficha de Strahd muito “pouco”. Como sabem, somos apaixonados por textos grandes e prolixos. Então, abaixo, teremos uma página de um diário de um aventureiro tragado de Dark Sun para as Terras das Brumas. Neste diário, o psionista fala de suas experiências em Ravenloft e um pouco sobre sua impressão a respeito do Lorde Sombrio. Esse texto pode servir de inspiração para a sua campanha. Talvez esse diário esteja nas mãos dos Negociantes do Vardo Vermelho em Krezk (você pode ler mais sobre eles AQUI).

 

Se você quiser ver logo a ficha do vampirão e nossas modificações, você pode ir direto ao final do texto onde está o link para baixar o PDF.

 

Esperamos que gostem. Boa leitura.

 




 

 

MINHAS MEMÓRIAS SOBRE STRAHD

 

Eu tenho muito a relatar destes últimos anos vivendo em Barovia, mas não sei por onde começar. Esse documento não é sobre mim, mas talvez ajude se eu me apresentar primeiro. Meu nome é Johannes, nascido em Raam, na região de Tyr. Logo quando criança meus talentos inatos chamavam a atenção e logo fui levado para a escola de Psiumarkh. Lá fui treinado no Caminho por ninguém menos do que o próprio Grande Mestre Tierard. Ao contrário de todos daquela geração, meus estudos primários se focavam na psicoportação, que todos consideravam uma “disciplina secundária”, muito útil, mas nunca primária. Eu não pensava desta forma. O preconceito vem do fato de psicoportadores supostamente não serem úteis em combate, tão pouco em investigação. Ou assim diziam. A maioria acaba se tornando meros mensageiros. Foi em uma missão para levar um documento de Raam para Tyr, enquanto fugia de alguns caçadores de escravos, que acabei sendo pego pelo que naquele momento suspeitei ser uma estranha tempestade de areia, mas ela era muito diferente. Não era seca. Hoje sei que se tratavam das Brumas. E foi através delas que vim parar aqui neste mundo sombrio.

 

Johannes



Neste mundo demorei um pouco a aprender os idiomas e costumes, mas com a ajuda de amigos como o sábio Rudolph, o intrépido Simon, o pequeno Presun e a bela Ariel eu pude me adaptar e usar o Caminho para tentar amenizar o sofrimento de muitas pessoas.

 

Viajamos por muitos reinos diferentes nestas terras das brumas. Com o tempo desenvolvi também as disciplinas da Telepatia e da Clarisciência. E foi o domínio conjunto dessas três disciplinas que me permitiu entender um pouco mais sobre essas terras. E sobre Strahd.

 





Meu primeiro contato com vampiros foi com uma vampira jovem no Condado de Mordente. Ela seduzira o nosso bom doutor com seus poderes de encantamento e ele quase se transformou em uma criatura da noite. Com a ajuda dos dons de Presun e Ariel de se locomover em catacumbas sem acionar nenhuma armadilha mortal ou atrair a atenção de sabe-se lá que outros habitantes terríveis que lá estavam nós encontramos a vampira. Eu e Simon agimos rápido. Eu o coloquei do lado da criatura em um piscar de olhos e Simon usou de sua técnica quase perfeita para cravar uma estaca no coração da criatura. Não foi sorte, pois não foi a única vez que testemunhei sua precisão e força.

 


Simon



Foram anos de luta contra as forças das trevas. Por fim, perdi quase todos eles. Enterrar aqueles que amamos é algo doloroso demais. O único que não compareci no velório foi Rudolph, pois ele está desaparecido. Sinto a falta de cada um. Às vezes observo de longe alguns momentos que vivemos juntos. Hoje sei porque senti tantas vezes que algo nos observava. Era eu o observador.

 

Nos anos em que confrontávamos as forças do mal, aprendi a viajar no espaço por quilômetros em um piscar de olhos, a ver o passado e o futuro, a ler mentes e, o mais fascinante de tudo: viajar no tempo. Mas se esta ciência foi a que me trouxe mais conhecimento, também foi a que me trouxe mais dor. Não vou entrar em detalhes, mas minha principal descoberta foi que algumas coisas não poderiam ser alteradas e as que por ventura pudessem sofrer alguma mudança, só poderiam ser alteradas uma única vez. Nem sempre pra melhor. Cometi esse erro de tentar interferir na linha do tempo uma ou duas vezes, mas tudo que aprendi foi em como isso é trágico. Ainda me lembro da última vez em que me vi diante de meus olhos e me ouvi dizendo “não faça isso”. Pouco adiantou. Se eu tivesse me ouvido, talvez a doce Ariel ainda estivesse comigo...

 

Ariel

Mas não é sobre isso que preciso escrever. Eu quero escrever sobre o mal maior desta terra. Talvez de todas as terras das brumas, pois nada havia aqui antes de Barovia, e foi ele quem trouxe essas terras pra cá. Graças ao Caminho eu pude ler suas notas pessoais, pude ver toda sua tragédia e imaginar uma forma de derrota-lo. Talvez exista uma forma... Estou me precipitando mais uma vez.

 

Todo o mal que existe em Barovia hoje é parte da diversão de Strahd. Tudo é um passatempo para Strahd. A política, a miséria, o terror, os mortos, os esquemas, as leis, as amantes, os amantes... Tudo é um brinquedo nas mãos dessa criatura. E quem é essa criatura?

 

Strahd foi um "guerreiro", como era esperado dele. Foi o "libertador" das terras de sua família, de seu povo, e perdeu sua juventude em uma guerra que perdurou por décadas. Ele tinha muito respeito pelo seu dever de filho, de nobre, de soldado. E se ele começou uma guerra justa, não se pode dizer que ele tenha sido honesto e justo, ou que conduziu uma guerra sem traições. Talvez essa seja a visão dele, de que ele representava um lado honrado, mas após uma guerra começar, não há mais certo e errado. Há apenas a história do lado vencedor. E assim ele contou a dele, sem contar a história dos mortos ou do que ele foi capaz de fazer para que seu lado sobrepujasse as forças inimigas.

 

Batalha na Vau Rubi por Tomasz Jedruszek



Um dia a guerra acabou. Ele então se sentou em seu trono no Castelo Ravenloft, uma fortaleza inexpugnável nos montes Balinoks. Enquanto ele se enfadava com a burocracia de ser o soberano, em meio à decisões enfadonhas para quem passou sua vida nos campos de batalha, surgiu seu irmão mais jovem, Sergei. Sergei era o terceiro filho de Barov von Zarovich e Ravenia van Roeyen. Sergei e Strahd também tiveram um irmão chamado Sturm, mas pouco consegui saber sobre ele no que pude observar e presenciar em todo este tempo. Sergei, ao que consegui compreender, foi enviado jovem para pertencer ao clero, estudando sobre a religião e os deuses, mas sentiu que aquele não era seu destino e abandonou a igreja. Talvez por sentir que seu destino fosse viver um amor real e não idealizações divinas. E Sergei chega ao castelo contando sobre suas escolhas a seu irmão. E sobre seu amor:  Tatyana.

 

Strahd ouve tudo. Ouve como Sergei foge de seu dever com o clero e decide aproveitar sua juventude com uma moça. Esta é uma escolha que Strahd nunca pode fazer, ao menos na opinião dele próprio. E foi assim que ele conheceu Tatyana.

 

Tatyana representava a fuga de seu irmão ao seu destino. Seu irmão, jovem, querido pelo povo, amado por todos, belo, cheio de vida... A vida que Strahd perdera na guerra para libertar Barovia dos invasores! Enquanto Sergei recebia o amor dos pais, Strahd estava liderando tropas. Sequer pode velar seus corpos quando a morte veio. Qual a recompensa que Strahd recebeu? Nenhuma! Mas Sergei recebia Tatyana. Ela era doce, inocente, bela, pura... Como a juventude que Strahd não teve!

 

Tatyana



Tatyana o tratava como um irmão mais velho, sem nunca o olhar como ele era "de verdade".  O herói de guerra, o senhor de Barovia, mas também o guerreiro corajoso e homem maduro e ideal. Ela não o via como um possível pretendente, claro. Ele estava velho.

 

Assim, a única doçura de sua existência até ali, após largar os braços dos pais e seus dias felizes para se sacrificar na guerra, não lhe pertencia e sim ao irmão que era o que ele deveria ter sido. Talvez se ele não fosse velho... Talvez se ele fosse outra pessoa...

 

Essa loucura, além de uma busca pelos anos que não voltam mais, fez com que Strahd buscasse a juventude eterna. Strahd se afundou em tomos proibidos e estudos sobre a vida e a morte: a terrível necromancia! Em um momento de fraqueza, quando o casamento de Sergei com Tatyana enfim seria realizado no castelo, SEU CASTELO, que Strahd havia conquistado em troca de sua vida e juventude, o velho guerreiro permitiu a vitória de seus estudos e de seu desespero: Strahd fez seu trato com "a morte".  Selou o pacto obscuro matando seu irmão no dia de seu casamento com Tatyana.

 

Sergei


Tatyana se desespera em meio ao horror que se tornou o que seria dia mais feliz de sua vida. Em meio ao caos, o castelo é invadido por um grupo de assassinos resistentes do povo que um dia dominou Barovia até a guerra de Strahd. Diante de todo o terror, ela presenciava atônita aquele que deveria ser seu cunhado, seu irmão mais velho, a proteção dela e de Sergei, o porto seguro dos dois, dizendo que fez tudo por ela!... Aquele ser hediondo dizendo que destruiu a felicidade dela "por ela"!... Ela se atira dos muros do castelo. E, possivelmente pela primeira vez na história de todos os mundos existentes, sobem as brumas. Barovia é tomada pelos poderes sombrios e trazida para cá, onde vivemos.

 

Eu visitei muitos reinos e tentei chegar ao momento em que eles foram criados ou trazidos e nenhum chegou antes de Barovia. O ano de 351 no calendário baroviano é o primeiro reino da Terra das Brumas. O ano da morte de Sergei e do salto de Tatyana para a eternidade.

 

Muito se passou desde então. Mas há algo importante que precisa ser dito: Strahd descobriu que o espirito de Tatyana, de alguma forma, está preso em Barovia e que de tempos em tempos retorna. Assim, quando Tatyana surge nessas terras, Strahd move todos os seus esforços para conseguir ficar com ela. E ele tentou de tudo. Abordagens diretas, indiretas, ele se disfarçou, ele usou magia, ele criou planos incríveis. Mas, no fim, sempre dá errado. SEMPRE.

 




Eu vi isso se repetir através dos anos. Das décadas. Dos séculos. Eu presenciei cada falha. Cada mudança nos planos de Strahd. Cada interferência natural e sobrenatural que fizesse com que os planos falhassem. Mas uma coisa nunca mudou: a esperança, uma quase certeza que daquela vez ele conseguiria. E ele não conseguia.

 

É como se essa fosse a sua prisão. Sua tortura eterna. E nós todos estamos presos aqui com ele.

 

Entre um renascimento e outro de sua obsessão, Strahd busca algo que o divirta em meio a sua vida nesta masmorra chamada Barovia. Ele passa seu tempo estudando as artes mágicas, conhecendo cada vez mais seu domínio como se este fosse a palma de suas mãos, colecionando e torturando prisioneiros, elaborando tramas nefastas, criando novos disfarces para caminhar por aí sem ser reconhecido ou sem que parte da população de Barovia o perceba como o que realmente é, acabando com a vida de algum metido a herói que se atrevesse a invadir o Castelo Ravenloft, criando uma nova cria vampírica ou um novo vampiro de alguém que possa lhe trazer algum prazer passageiro por qualquer motivo que seja, mas que não é a Tatyana, e então inevitavelmente deixando de ser interessante... E vivendo em um eterno ciclo vicioso de “não é a Tatyana”. E o que importa se seu passatempo é a política, o sadismo, a guerra, o novo, um amante ou uma amante? No fundo tudo não passa de prazeres vazios ou distrações passageiras de qualquer forma. Tatyana é sua única obsessão. E todo restante é apenas algum passatempo entre sua última tentativa frustrada de ter seu "final feliz" com sua fixação em Tatyana e sua próxima tentativa. Uma monomania eterna. Você nunca a terá, Strahd!

 

Na mente de Strahd, ele tem todo o direito de fazer o que quiser, afinal, ele lutou para obter tudo isso. Toda a sua juventude foi perdida para que ele se tornasse senhor de Barovia. Barovia e ele são unidos pelo sangue. Ele é Barovia. Então ele pode enfrentar seus inimigos, criar uma nova magia, estudar algum novo viajante das brumas recém chegado a Barovia, e manter o seu povo sob a sua rédea, afinal ele mereceu tudo que ele conquistou, e no fim isso lhe custou tudo.

 


Strahd Von Zarovich



Quando não há uma Tatyana em Barovia ele pode passar anos recluso, ou pode ser lascivo e ter diversos e diversas amantes, pode enforcar ladrões, cobrar impostos absurdos ou simplesmente se tornar um conjurador melhor e mais poderoso. No fundo qualquer coisa é uma forma de esperar pela próxima Tatyana.

 

E por isso ela é peça chave para quem quiser derrota-lo. Fazer com que Strahd se frustre é causar sua ira infinita. Mas também é fazer com que ele não seja o general que age de forma centrada e metódica, um inimigo impossível de ser vencido. Por isso ela é "o ponto fraco" dele. Descobrir quem é a atual encarnação de Tatyana e protege-la de Strahd, fazendo com que ele falhe novamente é o dever de qualquer um que deseje confrontá-lo. Entender esse papel de Tatyana em Barovia pode ser a única chance que você tem de vencer. Sim. Você que está me lendo agora. Você tem a chance de acabar com tudo isso.

 

Elfo ou meio elfo aventureiro



É por isso que escrevi diversas cópias desse pergaminho e enviei através do tempo. Eu espero que ao menos uma cópia chegue nas mãos de alguém que vá confrontá-lo. Eu sei que chegará. E tenho esperança que alguma linha do tempo ele seja derrotado de vez. Talvez isso nos liberte dessas terras do pavor. Talvez todos nós. Ou talvez liberte apenas você que está lendo e aqueles que vivem em seu tempo. Não tenho como saber.

 

Eu não tive sucesso em minhas tentativas, mas se Strahd puder ser derrotado uma única vez, em uma realidade que seja, este meu último esforço terá valido a pena.

 

Johannes de Raam. 

 

Para ler a nossa versão de Strahd Von Zarovich, você pode baixar o PDF AQUI.







FINALIZANDO O TEXTO

 

 

Gostou de ler sobre Strahd Von Zarovich? Gosta de de ler sobre outros PdMs famosos de Ravenloft? Temos aqui em nosso site um texto sobre o Azalin e outros sobre PdMs sombrios que vivem em Barovia.  Que tal ler um pouco sobre as Azalin Rex, o Lorde Sombrio de Darkon e arquirrival de Strahd, AQUI?  Ou talvez queira ler mais sobre as Crias das Brumas, NPCs que não são Lordes Sombrios mas que podem enriquecer suas histórias em Ravenloft, que você pode começar a ler  AQUI


Se você gostou desse texto e dessa nova ficha de Strahd e acha que seu grupo pode estar 'meio fraquinho" para enfrentar o Senhor de Barovia, que tal utilizar o Guia dos Weathermay para Sobrevivência nas Brumas da Black Feather e equilibrar o jogo? Você pode adquirir o livro no link abaixo da DMSGUILD.


 Guia dos Weathermay para Sobrevivência nas Brumas





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Mapa de Barovia




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